Peça na favela de Heliópolis exibe o empoderamento feminino no dia a dia
Coléricas. Irascíveis. Sangue nos zoio. Essa é a pegada das três mulheres que atuam na peça No beco da Preta. Não em um teatro convencional, mas dentro da favela de Heliópolis, na zona sul, de São Paulo. Não na rua, pois o barulho do local não permitiria, mas num endereço conhecido pela coragem e por inovar ao fazer a arte com a força bruta, o Cine Favela de Heliópolis.
Na pequena sala de projeção, onde também são ministradas aulas de informática, capoeira, karatê, entre outras funções, as três mulheres brilham no cenário simples e sombrio. Infelizmente, sem apoio da Lei Rouanet ou de qualquer incentivo financeiro, No beco da Preta entrará em cartaz, no próximo sábado (16/04), às 20h.
Composta exclusivamente por mulheres e seus dramas pessoais, a peça conta a história de Maria que foi estuprada, espancada, esculachada pela sociedade, acreditou no amor e sofreu as duras consequências na própria pele. Da doutora Ana que se formou com ajuda do Prouni, trabalha no Hospital Heliópolis, é virgem e, ainda, sonha com um príncipe encantado, mas, em contrapartida, no meio da noite vai para o paredão quebrar geral no funk, sempre com a imagem de Santo Antônio guardada no meio dos seios. E de Isleide que enquanto varre o beco relembra o passado, a revolta da população, o assassinato da líder comunitária Preta, o descaso dos políticos, a falta de educação dos moleques da comunidade, e ainda acha espaço para rir e lamentar pelo marido broxa.
Composta exclusivamente por mulheres e seus dramas pessoais, a peça conta a história de Maria que foi estuprada, espancada, esculachada pela sociedade, acreditou no amor e sofreu as duras consequências na própria pele. Da doutora Ana que se formou com ajuda do Prouni, trabalha no Hospital Heliópolis, é virgem e, ainda, sonha com um príncipe encantado, mas, em contrapartida, no meio da noite vai para o paredão quebrar geral no funk, sempre com a imagem de Santo Antônio guardada no meio dos seios. E de Isleide que enquanto varre o beco relembra o passado, a revolta da população, o assassinato da líder comunitária Preta, o descaso dos políticos, a falta de educação dos moleques da comunidade, e ainda acha espaço para rir e lamentar pelo marido broxa.
Na peça é tudo junto e misturado. Comédia, drama, revolta, zoeira, dor, alegria. Tudo embalado pelo empoderamento, pelo feminismo, pela ironia política, pela crítica social, elementos que a arte é capaz de transformar. São 40 minutos tensos e divertidos. Uma batida que não é perfeita, com inúmeros pontos de reflexão. Tudo que o teatro pode trazer e fazer pra mudar uma realidade local ou pelo menos apontar um rumo. Afinal, a vida pode imitar a arte.
PRODUÇÃO
A peça foi idealizada pelo jornalista, escritor e parceiro do Cine Favela, há doze anos, Willian Novaes: “Nessa última década que passei vindo aqui em Heliópolis, dirigindo e escrevendo roteiros, ouvi histórias e mais histórias de todo o tipo e percebi que as mulheres sempre estavam na linha de frente e poucas vezes nos papéis principais. Inclusive em nossas produções. Isso precisava mudar. O começo foi o curta-metragem A encruzilhada. E agora No beco da Preta que é uma produção altamente sensível, ao assistir chega a doer, pois mostra o poder do empoderamento feminino, mesmo num lugar extremamente machista, como a favela”.
Willian convidou a também jornalista, dramaturga e atriz Maria Teresa Cruz, com seu teatro brutal, para dirigir e fazer a coisa acontecer. Também se uniu ao projeto o professor de teatro Di Camargo. Eles fizeram um laboratório de oito meses com as atrizes. Direcionaram as falas, que foram criadas pelas próprias meninas. Com talento e muito suor a dupla colocou em cartaz uma das peças mais violentas, no sentido figurado, da cena teatral atual. “É preciso mostrar o feminismo, o empoderamento, talvez Simone de Beauvoir chorasse com essa peça”, conta Maria Teresa. Para Di fazer teatro não é coisa pra qualquer um: “Essa com certeza não é mais uma daquelas peças feitas na favela, de qualquer jeito. Tivemos um grande processo. Talentos foram aflorados, tudo para o bem do teatro”.
Quem são as protagonistas:
Isleide Marinho era virgem no palco, aos 33 anos, a ex-segurança bancária, por curiosidade aceitou um convite para participar do curta-metragem A encruzilhada, no ano passado, produzido pelo Cine Favela. Antes tinha feito algumas figurações em programas populares. Nasceu no Rio de Janeiro e frequenta Heliópolis há 5 anos.
Rejane Alves é de Óroco, no sertão pernambucano. É atrizz por paixão. Já atuou em diversas peças, participa de Saraus e é voluntária em um projeto social que ajuda pessoas carentes e mulheres vítimas de violência doméstica. Como a sua Maria já sofreu na pele o peso da mão alheia e crava: “no primeiro tapa sai fora. Da li não vem mais amor”.
Rita Andrade, 30 anos, nasceu na pequena cidade de Santa Luz, na Bahia, mora em Heliópolis desde 2003, é atriz e já atuou em diversas montagens e em trabalhos realizados no Cine Favela.
Quem são os diretores:
Di Camargo, é ator e professor de teatro desde 2006. Colabora com o Cine Favela desde 2006. Tem uma rotina frenética, mas por amor à arte consegue conciliar seu trabalho, em um dos maiores bancos do país, com sua paixão pelo teatro e se dedica a ensinar e aprender teatro numa das maiores favelas do país e em outros cantos esquecidos pelo poder público. Já atuou em oito peças de teatro, 10 curta metragens, participou de leitura dramática, realizou locuções e foi jurado do Festival de curta metragens do Cine Favela em três oportunidades.
Maria Teresa Cruz é jornalista, atriz e dramaturga. Em comunidade, carrega grande experiência com o trabalho João e Tereza, realizado na favela do Sapo, em Piracicaba, no interior de São Paulo, pelo qual ganhou o prêmio Carlos Drummond de Andrade de iniciativas culturais em 2002. Escreveu em 2013 a peçaA ordem partiu de quem? sobre a violência policial ocorrida nas manifestações do mesmo ano. Atuou em algumas peças, entre elas: As cartas portuguesas, direção de Jamil Dias, em 2010, e Tempo/Passagens, direção colaborativa com o parceiro Jeferson Kucioyada, em 2015. Com talento quase sem educação, Maria Teresa tem o poder de ser notada aonde chega. Também conta com um canal no YouTube, Cenas da Cidade, além de apoiar o movimento feminino na cidade de São Paulo.
Willian Novaes é jornalista, escritor, diretor e roteirista de cinema. É parceiro do Cine Favela desde 2004. Cresceu na quebrada do Jaraguá, em São Paulo. Gosta de provocar e levantar polêmicas. Em 2014, escreveu o livro Mascarados, sobre os Black Blocs. Entre outros trabalhos para o Cine Favela está o roteiro do longa-metragem Excluídos da Sociedade e o curta-metragem A encruzilhada.
CINE FAVELA é uma entidade sócio cultural criada, na favela de Heliópolis, na cidade de São Paulo. Há quase 14 anos produzindo cultura na periferia, sem custos para os alunos. Com esforços montou a sala de cinema, com projeção digital. No local sempre acontece sessões de cinema, com pipoca e refrigerante. Na direção da entidade, está o comerciante Reginaldo di Tulio que carrega e muitas vezes paga do seu próprio bolso as produções do local. O Cine Favela é um marco para a cidade e um dos poucos pontos de cultura do local, onde vivem mais de 130 mil pessoas.
Serviço:
Estreia dia 16/04/2016 / Horário: 20hs
Local: Cine Favela de Favela
Onde: Rua do Pacificador, 288 – antiga Rua da Alegria. Descer no último ponto da Avenida Almirante Delamare.
De Metrô: descer na estação Sacomã. Cinco minutinhos de táxi ou pegar o ônibus no Terminal Sacomã. Linha : 5031-10 – Vila Arapua.